A presente investigação foi desenvolvida no âmbito da unidade curricular de Jornalismo Comparado e tem como principal objetico analisar e comparar a forma como diferentes meios de comunicação social tratam um determinado acontecimento.O acontecimento escolhido para analise foi a final da Eurovisão 2017, nomeadamente a influência que as reações do público nas redes sociais possa ter tido na construção de conteudos noticiosos. Posto isto, pretende-se responder à questão: “Em que medida, a comunicação social portuguesa e espanhola foi influênciada pelas polêmicas criadas nas redes sociais, após a final da Eurovisão?”.
Para conseguir responder à questão inicial, o seguinte estudo recorre a métodos de jornalismo comparado para análisar a versão online de dois jornais de referência portugueses: Público e o Diário de Notícias, e de dois jornais de referência espanhois: El País e o El Mundo, no período de 12 de maio a 15 de maio de 2017.
Portugal garantiu, pela primeira vez o 1º lugar no festival da Eurovisão ao contrário de Espanha que ficou em último. Visto que os os jornais de referência são aqueles que noticiam com rigor, exatidão, objetividade e independência, pondo de lado sensasionalismo, torana-se pertinente analisar se foram ou não influênciados pelos conteúdos publicados nas redes sociais e, se o foram, se usaram esses conteúdos de forma positiva ou negativa na construção dos conteúdos notíciosos.
Eurovision Song Contest
A Eurovision Song Contest teve inicio em 24 de maio de 1956 e é um concurso anual de canções, transmitido pela televisão e pela rádio, com participantes de vários paises. É organizado pela União Europeia de Radiodifusão e já conta com 62 edições.
Foram sete os países fundadores – França, Alemanha Ocidental, Luxanburgo, Bélgica, Suíça, Holanda e a Itália – que, na primeira edição tiveram de cantar duas músicas na língua do seu país. A vencedora foi a Suiça.
Ao longo dos anos, muitos foram os países que se quiseram juntar ao concurso, como por exemplO, Portugal em 1964, Israel em 1973, a Islândia em 1986.
No início da década de 90, com o fim da Guerra Fria, o concurso acaba por se expandir para leste, atraindo vários países que compitiram pela primeira vez em 1993. O processo de expansão continuou ao longo dos anos, o que fez com que o formato fosse modificado, ao se introduzir semifinais, no ano de 2004. Desde então os países têm de passar na semi-final para conseguir apresentar a sua música na final.
Em 2017 o concurso teve 42 países a participar.
Portugal e Espanha na Eurovisão
Espanha participa pela primeira vez em 1961, com a interpretação de Conchita Bautista da música “Estando Contigo”, que conseguiu alcançar o 9º lugar. Em 1968, ganha o concurso pela primeira vez e, no ano seguinte, volta a ganhar, tornando-se o primeiro país a ganhar o Eurovision Song Contest duas vezes consecutivas. Já em 2017, ficou em último lugar com a atuação de Manel Navarro.
Já Portugal entra no concurso em 1964, com a música “Oração”, interpretada por António Calvário, que conquistou o 13º lugar. Só em 2017 é que consegue alcançar o primeiro lugar, com a atuação de Salvador Sobral, sendo que até então, a sua melhor classificação foi em 1996 quando ficou em 6º lugar, com uma atuação de Lúcia Moniz.
Ciberjornalismo
A expansão da Internete e a multiplicação de publicações online levaram à origem de um novo género jornalistico: o ciberjornalismo.
Inicialmente, o jornalismo na Internet começou por ser visto como shovelwere, (Barbosa, 2002) ou seja “uma mera transposição de conteúdos jornalisticos do meio tradicional para a Internet. Portanto, o ciberjornalismo começou por ser visto como “a especialidade do jornalismo que emprega o ciberespaço para investigar, produzir e, sobretudo, difundir conteúdos jornalisticos (Salaverría, 2005: 21).
No entanto, com o passar dos anos, o ciberjornalismo foi ganhando espaço e, hoje em dia, já é visto como um género jornalistico, que tem inúmeras potencialidades. Segundo Salaverría (2005: 119), destas potencialidades, detacam-se três: a Interativide – “interação humana (entre dois ou mais seres humanos) potenciada pela máquina e não apenas pela reação do homem ao que outro lhe oferece, por intermédio da tecnologia.” (Zamith, 2008: 27); a Hipertextualidade – “a capacidade de interligar vários textos digitais entre si.” (Salaverría, 2005:30); e a Multimedialidade que é “a capacidade, outorgada pelo suporte digital, de combinar numa só mensagem pelo menos dois dos três seguintes elementos: texto, imagem e som” (Salaverría, 2005: 32). Nota-se ainda que o cibermeio permite também obter níveis altos de memória, ubiquidade e personalização, (Zamith, 2008).
Contudo, as potencialidades do cibermeio não estão a ser suficientemente aproveitadas em portugal. Segundo Zamith (2007: 44), “os ciberjornais portugueses de informação geral de âmbito nacional aproveitam menos de um quarto das potencialidades máximas do novo meio.”. Hélder Bastos (2015:13) concorda com Zamith, ao cita-lo no seu estudo “Os ciberjornais portugueses de informação geral de âmbito nacional aproveitam pouco as potencialidades da Internet, usam «muito pouco» o hipertexto jornalístico, disponibilizam «muito pouco» conteúdo jornalístico multimédia e permitem «muito pouca» interatividade (Zamith, 2008).”
Afirma ainda que “o maior perigo para o jornalismo reside agora na irreversibilidade destas tendências” (Bastos, 2015: 17).
A influência das Redes Sociais no jornalismo
Com o crescimento da Internet, os jornalistas viram “uma nova oportunidade para veicularem os seus conteúdos, tirando partido das potencialidades da publicação eletrónica na rede mundial de computadores. (Bastos, 2000: 106)”.
Contudo, com o passar do anos, os meios de comunicação começaram a recorrer às redes sociais para divulgar os conteúdos publicados no seu site. Isto porque, o público está cada vez mais inserido nas redes e os media viram a entrada nestas como uma vantagem, pois conseguem obter feedback através dos comentários, gostos e partilhas, de se aproximar do público e de o atrair para o seu website.
“A real vantagem deste novo formato reside no factor da simplificada partilha de informação por parte dos utilizadores: ferramentas de microblogging como o Twitter promovem a partilha de informação relevante de uns utilizadores para os outros, de tal forma que um simples tweet de um canal noticioso pode facilmente chegar à lista de milhares de utilizadores não seguidores, segundo um efeito tipo bola-de-neve (Nobre & Magalhães, 2010: 65)
Por sua vez, a entrada dos media nas redes sociais motivou a participação do público na construção da notícia. “Graças ao alto grau de liberdade que existe nas redes sociais, muitos usuários já não se contentam com o simples consumo de conteúdo, e, criam novas ações, como o compartilhamento de informações, exposição de ideias e planos, troca de conteúdos e contatos, mobilização de outros usuários na defesa de determinada causas, debate virtual, denúncias, pedidos de ajuda, enfim, estão participando ativamente nesta sociedade em rede.” (Jácomo, 2013: 39).
Já os media, optaram por utilizar citações retiradas das redes sociais como fontes de informação das notícias. Isto acontece pois “(…) are often the place where news is broken first and, increasingly, politicians, sports, and entertainment stars use social media channels to reach out to their followers but also to make announcements that they know will then be picked up by the media. As the size of social networks has grown, these channels have been increasingly used for distributing primary eyewitness material on breaking news stories. “(Schifferes et. al 2014:3).
Já Fowler-Watt e Allan consideram que as redes sociais estão a ampliar as oportunidades para os jornalistas, pois possibilita a variação e a interação diferenciada com as fontes (2013: 244). Para Shirky, os jornalistas devem saber usar as redes sociais para descobrir novas histórias e fontes de informação. “Practice reading conversations on Facebook and looking at photos on Instagram to look for story ideas; understand how a respectful request for assistance on Twitter or WeChat can bring out key sources or armies of volunteers” (Shirky, 2014)
Portanto, hoje em dia, as redes sociais são utilizadas pelos jornalistas como distribuidoras de conteúdo, mas também como fontes de informação para a construção de notícias.
Jornalismo Cultural
Antes de falar em jornalismo cultural, é fundamental definir a palavra cultura. Para a Unesco, cultura é “Conjunto de características distintas espirituais, materiais, intelectuais e afetivas, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Abarca, além das artes e das letras, os modos de vida, os sistemas de valores, as tradições e as crenças.”, (Unesco, 1982).
Já o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, define cultura como “ação de cultivar a terra; produto do cultivo da terra; conjunto de técnicas necessárias para obter do solo produtos vegetais para consumo; agricultura; (…) desenvolvimento de certas faculdades através da aquisição de conhecimentos; educação; conjunto de conhecimentos adquiridos que contribuem para a formação do indivíduo enquanto ser social; saber; desenvolvimento de certas faculdades através de aquisição de conhecimentos; educação; sistema complexo de códigos e padrões partilhados por uma sociedade ou grupo social e que se manifesta nas normas, crenças, valores, criações, e instituições que fazem parte de uma vida individual e coletiva dessa sociedade ou grupo (…).”
O jornalismo cultural, foi crescendo ao logo dos anos, com o conceito de cultura. “Jornalismo cultural é o ramo do jornalismo que tem por missão informar e opinar sobre a produção e a circulação de bens culturais na sociedade. Complementarmente, o jornalismo cultural pode servir como veículo para que parte desta produção chegue ao público.”, (Gomes, 2009: 8).
Dora Santos Silva afirma que existe uma grande falta de estudos sobre o jornalismo cultural. No entanto, no seu livro pode-se encontar uma definição simples, “O jornalismo cultural submete-se paralelamente às práticas do jornalismo geral que conjuga com especificidades próprias do jornalismo especializado e, ainda do cultural (…).” (Silva, 2012, p:71). Ou seja, jornalismo cultural é uma especialização do jornalismo geral, que aborda temas culturais.
Jornais de Referência
Jornais de Referência são aqueles “que têm prestígio, são hegemônicos e representam posições sociais e simbólicas privilegiadas no campo jornalístico. Outro critério para fazermos essa divisão arbitrária são as qualidades que os jornais atribuem a si mesmos em relação aos valores jornalísticos.”, (Amaral, 2004 : 54).
Os jornais que são considerados de referência têm “uma particular responsabilidade na relação entre o poder informativo e os processos de cidadania” (Reis & Lima, 2013: 698). São também os “jornais ditos de referência”, “os mais lidos pelos públicos com o ensino superior” (Cardoso, 2006, p. 6).
Os jornais de referência são aqueles que noticiam com rigor, exatidão, objetividade e independência no seu dia-a-dia, pondo de lado sensasionalismo.
Perfil Editorial de cada Jornal
“O estatuto editorial de um jornal consiste num conjunto de ideais pelos quais determinada publicação se rege e apresenta aos leitores os seus objetivos. O perfil editorial dos jornais é definido pela ênfase que os órgãos de comunicação social dão a determinados tópicos” (Bastos & Zago, cit. em Araújo & Lopes, 2014: 88).
O Público “foi fundado em 1990 sendo parte do grupo Sonae, e foi lançado com uma linha editorial clara de jornalismo de referência, caracterizando-se pela preferência das temáticas nobre do jornalismo e por um estilo gráfico sóbrio, que contribuíram para a conquista de um público de elite.”, (Reis & Lima, 2013: 699). É considerado um diário generalista de referência e tem como público leitores com “um grau de instrução elevado” e com idades “entra os 25 e os 34 anos”, mas também abrange leitores “entre os 45 e os 54 anos.”, (Reis & Lima, 2013: 699). Assume-se como um “jornal de referência com um jornalismo responsável e sério, pautado pelo rigor e criatividade.”, (Estatuto Editorial Público).
Por sua vez, o Diário de Notícias é considerado um diário generalista de referência. Foi “lançado em 1864” e “afirmou-se como o primiro diário português que obedecia ao figurino da imprensa industrial e informativa. (…)caracterizou-se pela conquista do público da capital, graças ao seu estilo sóbrio.”, (Reis & Lima, 2013: 699). Os leitores do Diário de Notícias “caracterizam-se por um grau de instrução médio” e é o que tem “maior número de leitores entre os 245 e 34 anos e ue vivem na Grande Lisboa.”, (Reis & Lima, 2013: 699).
O El País foi fundado em 1976. define-se como um “jornal independente e defensor da democracia pluralista”. Afirma que “rejeitará qualquer pressão de pessoas, partidos políticos, grupos económicos, religiosos ou ideológicos que tentem colocar informação ao serviço dos seus interesses. A informação e a opinião serão claramente diferenciadas uma da outra.”, (Manual de Estilo). É o jornal mais vendido em Espanha e é virado para o jornalismo participativo.
Já o El Mundo foi criado em 1989 e baseia-se no estilo americano de jornalismo de investigação. Rival do El País, classifica-se como “liberal” e afirma que a “moralidade e democracia são as bases do jornalismo.”, (Libro de Estilo). O seu website é o mais procurado pelos espanhóis para obterem informação noticiosa.
Metodologia
O principal objetivo do presente estudo é analisar a influência que as redes sociais podem ter na construção de notícias, sobre a final da Eurovisão, na versão online de quatro jornais de referência, dois portugueses e dois espanhois. Posto isto, pertende-se dar resposta à seguinte questão: “Em que medida, a comunicação social portuguesa e espanhola foi influenciada pelas polêmicas criadas pelas redes sociais, após a final da Eurovisão?”.
Para tal, levantaram-se as seguintes hipóteses, que pretendem dar resposta à pergunta de partida:
A. O Público, o Diário de Notícias, o El Mundo e o El País, como jornais de referência, noticiaram de forma imparcial a final da Eurovisão.
B. O El País e o El Mundo recorreram as redes sociais para demonstrar o descontentamento espanhol pelo último lugar obtido na final.
C. O Público e o Diário de Notícias não referiram as redes sociais nos conteúdos publicados.
Para dar resposta à questão inicial, tornou-se fundametal a seleção de uma amostra, que recaiu sobre a análise dos conteúdos jornalisticos publicados na edição online de dois jornais de referência portugueses – Público e o Diário de Notícias; – e dois jornais de referência espanhois – El País e o El Mundo.
O período escolhido para análise foi desde 12 de maio de 2017, um dia antes da final da Eurovisão, a 15 de maio do mesmo ano, dois dias depois da final. A escolha recaiu sobre este período pois penso que pode ser interessante analisar se os media procuraram as redes sociais antes da final e qual foi o impacto que a opinião do público teve nos conteúdos noticiados durante e depois da final. Como resultado desta análise, foram contabilizados 100 conteúdos jornalisticos.
A metodologia utilizada neste estudo consiste em análises quantitativas e qualitativas dos conteúdos publicados. Relativamente à análise quantitativa, pertende-se perceber qual a importância dada à final da Eutrovisão em cada jornal, contabilizando os conteúdos que foram publicados por cada um. Ao mesmo tempo pertende-se perceber qual foi o dia que teve maior fluxo de notícias e quantas notícias fazem referência às redes sociais.
Em relação à análise qualitativa, foram atribuidas um conjutos de variáveis para que fosse possível analisar o conteúdo das notícias, nomeadamente: o titulo, o género jornalistico utilizado (breve, notícia, reportagem, entrevista, opinião), o tamanho de cada conteúdo, o conteúdo multimédia presente e, caso fizesse referência às redes sociais, perceber se tinha sido de forma positiva, negativa ou neutra. Todas estas variaveis vão ser decompostas numa grelha para o tratamento e a interpretação dos resultados.
O género jornalistico, o tamanho e as potencialidades dos conteúdos publicados no meio online são muito importantes na medida em que revelam o destaque dado pelos media ao assunto em estudo. Em relação às potencialidades, pertende-se descobrir se os meios de comunicação usaram conteúdos multimédia retirados diretamente das redes sociais para construir ou justificar a notícia. Quanto ao tamanho de cada conteúdo notícioso, foi efetuado com base no número de caracteres das notícias (sem espaços incluidos), sendo que quanto maior for a dimensão de uma notícia, maior a importância dada ao assunto.
Relativamente ao género jornalistico, os mais utilizados são: notícias, reportagens, entrevista, opinião e fotogalerias. Uma breve caracteriza-se por ser curta e responder às seguintes questões: “quem?”, “o quê?”, “quando?” e “onde?”. Normalmente servem para notíciar factos com pouca importância. Já a notícia responde às perguntas “como?” e “porquê?”, dando assim mais importância aos conteúdos ao mesmo tempo que explica detalhadamente um certo acontecimento. Já um artigo de opinião não tem como máxima informar mas sim expor a opinião de alguém sobre um certo aconteimento. Numa reportagem o objetivo principal é contar ao leitor tudo o que se passa, ao mais infimo pormenor. Por fim, uma entrevista acontece quando o jornalista faz perguntas a uma pessoa que seja relevante sobre um determinado acontecimento e essas perguntas podem ser trancritas em discurso direto ou indireto.
Por fim, o que responde diretamente à quetão da investigação, que é o facto de os jornalistas referirem as fontes sociaias nos conteúdos utilizados e perceber se o fazem de forma a tranmitir acontecimentos/opiniões positivas, negativas ou neutras em relação à final da Eurovisão.
Resultados
Como mencionado anteriormente, foi realizada uma análise quantitativa, para perceber o número de conteúdos noticiados e quantos tinham mencionado as redes sociais. Foram encontrados e analisados 100 conteúdos sobre o tema em estudo, durante o periodo em análise (Gráfico 1). Destes, 57 fazem referência às redes sociais (Gráfico 4).
Relativamente às publicações de conteúdos, o Diário de Notícias destaca-se ao publicar 29 conteúdos, sendo que foi o jornal que mais escreveu sobre o tema em questão. Segue-se o PÚBLICO, com 27, o El País com 24 e por último o EL Mundo com 20 conteúdos publicados (Gráfico 1). Pode-se dizer que o número total de conteúdos públicados é alto, visto que nos quatro dias análisados todos os jornais escreveram sobre o tema. Constata-se também que os jornais portugueses publicaram 56 conteúdos no total enquanto que os jornais espanhois ficaram-se pelos 44 conteúdos publicados. Isto pode-se justificar pelo facto de Portugal ter ganho pela primeira vez a Eurovisão e por Salvador Sobral ter tido grande impacto por toda a Europa. No entanto, Espanha ficou em último lugar e por isso também houve um elevado número de publicações nos jornais espanhois. O dia 14 de maio foi o que registou um maior número de conteúdos publicados, 37 no total, pois apesar da final ter sido no dia 13, soube-se quem era o vencedor no dia 14 por volta da 00h30, o que justifica o maior fluxo de conteúdos (Gráfico 2).
Em relação ao género jornalístico utilizado pelos jornais analisados, percebe-se que o mais frequente nos quatro jornais é a notícia, sendo que o maior número (19 notícias) foi produzido pelo Diário de Notícias, enquanto que o El País produziu 18, o PÚBLICO 15 e o El Mundo 14. O segundo género mais utilizado foram os artigos de opinião/crónicas/editoriais, tendo sido registados 15 no total. Logo de seguida as breves com 6 publicações, as entrevistas e fotogalerias com 5 cada uma e por último foram cotabilizadas 3 reportagens de factos. Sabe-se que fazer uma reportagem implica mais tempo, mais recursos e mais contacto com as fontes, o que pode ser um motivo para ter um reduzido número de reportagens publicadas (Gráfico 3 + Tabela 1).
No que diz respeito às potencialidades percebe-se que não são aproveitadas na sua totalidade. A interatividade com o público não foi utilizada nenhuma vez no período de análise pelos quatro jornais. Em relação à hipertextualidade, o PÚBLICO uilizou-a em 24 dos 27 conteúdos publicados, sendo que a maioria eram hiperligações internas. Num total de 29 conteúdos, o Diário de Notícias apresenta apenas 3 com hiperligações, o que demonstra um subaproveitamento do que o cibermeio tem para oferecer. Já El País utilizou hiperligações em 20 conteúdos enquanto que o El Mundo usou apenas em 12. Em relação à multimedialidade, o PÚBLICO apresenta 19 peças com conteúdos multimédia. Já o Diário de Notícias é o jornal que mais recorre a esta potencialidade visto que a utiliza em 28 dos 29 conteúdos publicados. Tanto o El País como o El Mundo recorrem a conteúdos multimédia em todas as peças publicadas durante o período de análise. Apenas o jornais portugueses têm conteúdos publicados sem nenhuma potencialidade (o PÚBLICO 2 e o DN 1), sendo que são todos opiniões (Gráfico 6).
Acerca do tamanho dos conteúdos, o El País é o jornal com textos mais longo, sendo que apresenta uma média de 3.459 caracteres por peça. Logo de seguida encontra-se o PÚBLICO com uma média de 3.182. Já o El mundo apresenta uma média de 2.185 caracteres, equanto que o Diário de Notícias é o jornal com textos mais curtos, sendo que a média é apenas 1.688. O El País foi o jornal que publicou o conteúdo mais extenso, com uma notícia ao minuto enquanto decorria a final da Eurovisão, com 15086 caracteres. Todos os jornais apresentam um boa média de caracteres, o que demontra que deram importância ao tema em questão (Grelhas de Análise).
Quanto às referências dos jornalistas às redes socias, em 57 dos 100 conteúdos publicados pelos quatro jornais utilizavam as redes socias de alguma forma. Destas 57, 31 foram através de vídeos publicados no YouTube das atuações dos concorrentes que estavam ou tinham participado na Eurovisão. A maioria das publicações que utilizavam os vídeos do YouTube, fizeram uma referência neutra, visto que os usavam apenas para contextualizar o leitor (Grelhas de Análise).
O PÚBLICO mencionou as redes sociais em 12 conteúdos (44%) (Gráfico 4). Destas 12, 6 foram positivas, 5 neutras e apenas 1 negativa (Gráfico 5). Um exemplo de uma referência positiva acontece quando o PÚBLICO retira mensagens publicados no Twitter que inaltecem a vitória de Portugal (afirmaram que todos no Twitter estavam rendidos à atuação do cantor português). Já a referência negativa revelou-se na notícia ao minuto durante a final da Eurovisão, onde foram publicados vários tweets menos agradáveis com situações que foram acontecendo, ou então comentários de pessoas conhecidas. Um exemplo de um desses comentários, foi um tweet de Arévalo, um ator espanhol, a pedir para Portugal não votar em Espanha. Isto demonstra o descontentamento espanhol e incentiva os portugueses a não votarem em Manel Navarro. Por último, o YouTube foi aplicado nos conteúdos produzidos de forma neutra, uma vez que utilizavam diversas vezes vídeos das atuações dos concorrentes que estavam a participar ou que já tinham participado no Festival para contextualizar o tema. Também o Twitter foi utilizado pelo PÚBLICO como uma fonte neutra, quando publicaram um vídeo disponivel no Twitter para mostrar a chegada de Salvador Sobral e Luísa Sobral ao aeroporto de Lisboa (Tabela 2 + Grelha de Análise PÚBLICO).
Já o Diário de Notícias mencionou as redes sociais em 16 dos 29 conteúdos publicados (55%) (Gráfico 4). Destes 5 foram positivas, 1 negativa e 10 neutras (Gráfico 5). Como referências neutras foi utilizado o YouTube, com diversas atuações do cantor português e de outros concorrentes, o Facebook, quando fazem uma notícia baseada num vídeo onde os irmãos Sobral estão a cantar juntos antes da final e o Twitter, quando recorrem a um vídeo da chegada de Salvador Sobral ao aeroporto de Lisboa, para comprovar que estava realmente cheio. Para as referências positivas, as principais redes foram o Twitter e o Facebook. Um exemplo da primeira acontece quando o jornalista afirma que a maioria dos concorrentes deram os parabéns a Salvador e a Portugal pela vitória e coloca diversos tweets para dar a conhecer o que cada um disse. Já em relação ao Facebook, utilizaram esta rede para ir buscar um vídeo que Caetano Veloso publicou a desejar boa sorte a Portugal e a afirmar que queria que Salvador Sobral ganhasse a Eurovisão. Por fim, a referência negativa deu-se numa notícia em que se basearam nas reações do público no Twitter sobre o que tinha corrido mal durante a final, dando-lhe mesmo o título de “Os cinco ‘flops’ da Eurovisão de que ainda não parámos de falar”. Com “parámos de falar” referem-se aos comentários do público nas redes sociais (Tabela 2 + Grelha de Análise Diário de Notícias).
Quanto ao El País, este fez referência às redes sociais em 16 conteúdos (67%) (Gráfico 4). Em 16 referências, 3 foram positivas, 3 negativas e 10 neutras (Gráfico 5). No que diz respeito às negativas, fizeram referência a diversas redes sociais. Isto acontece quando revelaram o descontentamento do público em relação ao facto do cantor espanhol ter desafinado durante a atuação final (“En las redes sociales, la gente se ensaño con ele cantante por el gallo que se le escapó durante el supuesto momento álgido de la canción”.) ou, quando utilizam vídeos, retirados do YouTube, das atuações da Alemanha e da Bélgica, para relembrar que estas foram acusadas de plágio pelo público. Como referências neutras, utilizaram como os diários portugueses vídeos retirados do YouTube das atuações dos participantes para contextualizar os conteúdos notíciosos. Recorreram também a tweets da Eurovision em que informavam onde podiam ver a final do Festival ou os finalistas. Por último, como referências positivas usaram diversos comentários do público nas redes sociais a elogiar o concorrente português, o italiani, entre outros (Tabela 2 + Grelha de Análise El País).
Por fim, o El Mundo, que fez referência às redes em 13 dos 20 conteúdos publicados sobre o tema em análise (65%) (Gráfico 4), sendo que 1 foi positiva, 6 foram neutras e 6 negativas (Gráfico 5). Como única referência positiva, colocaram os vídeos dos três concorrentes favoritos à vitória, segundo as casas de apostas e afirmam que tanto o vídeo da atuação de Portugal com a da Itália são os mais vistos no YouTube da Eurovisão desde sempre. Como referências neutras usam, como todos os jornais em análise, vídeos retirados do YouTube das atuações dos concorrentes, para contextualizar o que estão a noticiar. Por fim, o El Mundo foi o jornal que mais utilizou as redes sociais para fazer referência às redes sociais de forma negativa. Isto acontece em várias situações, sendo uma delas quando, mais uma vez, recorrem ao YouTube para mostrar as atuações de todos os concorrentes espanhois que até à data tinham ficado em último lugar na final da Eurovisão, só para informar o público de que Manel Navarro ia em último nas casas de apostas. Menciaonam também os inúmeros comentários nas redes sociais sobre a atuação de Manel Navarro (“fue el protagonista en las redes sociales, en las que su gallo provocó una riada de comentarios) e, numa outra notícia, os tweets do público a fazer piadas sobre tudo o que aconteceu na final da Eurovisão (Tabela 2 + Grelha de Análise El Mundo).
O jornal que fez mais referências às redes sociais foi o El País, em que 67 % dos conteúdos publicados faziam referências às redes. No entanto, a maioria das referências foram neutras (10), utilizadas para contextualizar ou explicar um determinado facto ao público, não o influênciando de forma negativa ou positiva acerca de determinado assunto. De seguida, foi o El Mundo, que mencionou as redes em 65% dos seus conteúdos, sendo que foi o jornal que fez mais referências negativas (6) e menos positivas (1). O Diário de Notícias referiu as redes em 55% dos conteúdos, sendo que a maioria das referências são neutras. Por último o Público, que fez referência apenas em 44%dos conteúdos publicados, sendo a maioria positivas.
Conclusões
Os resultados obtitos não deixaram margens para dúvidas. Todos os diários de referência análisados foram influênciados, negativamente e não só, pelas redes sociais.
Em relação às hipóteses formuladas no início da investigação (Metodologia), a hipótese 2 foi comprovada, e as hipóteses 1 e 3 foram refutadas. Sobre a hipótese 1, depois de análisar todos os conteúdos, percebe-se que todos os diários, principalmente os espanhois, acabam por ser parciais em alguns conteúdos notíciados. Em relação ao PÚBLICO e ao Diário de Notícias percebe-se que utilizam os comentários e reações positivas do público para enaltecer a atuação e a vitória de Salvador Sobral. Já o El País e o El Mundo, acabam por utilizar os comentários negativos do público para demonstrar a desilusão e a vergonha por Manel Navarro ter ficado em último lugar, visto que ambos os jornais têm notícias baseadas só em referências negativas do público à atuação do cantor espanhol.
Em relação à hipótese 2, é a única que é comprovada visto que, como já referido, os jornais demonstram a desilusão pela atuação espanhola na final da Eurovisão. Prova disso são expressões como “En las redes sociales, la gente se ensaño con ele cantante por el gallo que se le escapó durante el supuesto momento álgido de la canción”, publicada no El País e “fue el protagonista en las redes sociales, en las que su gallo provocó una riada de comentarios”, publicada no El Mundo. Por fim, a hipótese 3 não foi comprovada, pois tanto o PÚBLICO como o Diário de Notícias referiram inúmeras vezes as redes sociais nos conteúdos noticiosos. Contudo, apesar dos dois diários terem tido um maior fluxo de notícias publicadas, conseguiram fazer menos referências do que os diários espanhois.
Este estudo revelou ainda que, apesar de serem jornais de referência, são muito dependentes do que o público escreve nas redes sociais, uma vez que 3 dos 4 jornais análisados fizeram referência às mesmas em mais de 50% dos conteúdos publicados, apesar da maioria ter sido referências neutras. Ou seja, as redes acabam por ser as fontes do jornalistas. Isto pode refletir uma reduzida investigação por parte dos media, o que leva a que haja menos reportagens ou entrevistas.
O presente estudo realizou-se apenas durante quatro dias, pelo que os resultados não devem ser universalizados. No entanto, é importante esta temática ter um estudo mais aprofundado no conteúdo e no tempo, para perceber realmete a importância que as redes socias tem para a construção de uma notícia e de que forma é que os jornais de referência as podem utilizar para “esconder” a sua opinião.
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